Empresas responsáveis pelas plataformas investem em equipes de investigação e em tecnologia para diminuir fraudes e vencer desconfiança do brasileiro.
Não bastam as ferramentas de pagamento eletrônico oferecerem funcionalidades além do acerto de contas com lojas online: as empresas responsáveis pelas plataformas no Brasil têm que investir em segurança para vencer a desconfiança dos consumidores.
Para ajudar na popularização, serviços que atuam no Brasil, como PagSeguro, MoIP, Mercado Pago e Pagamento Digital, investem em servidores dedicados, parcerias com grandes revendedores e equipes de analistas que coíbem fraudes como forma de atrair novos clientes.
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“O brasileiro pouco a pouco vai se acostumando com este pagamento. O grande tabu ainda é a questão a segurança, e não apenas para o pagamento eletrônico”, explica o cofundador e diretor geral do MoIP, Igor Senra, parceira de desenvolvedoras de solução de e-commerce como Jet, EZ Commerce e Tray Sistemas.
Da mesma forma como é prejudicado pela desconfiança do consumidor, o sistema de pagamento eletrônico pega carona na crescente popularização do comércio eletrônico no Brasil. Este ano, as vendas natalinas devem ser 30% maiores do que as registradas em igual período de 2008, alcançando 1,63 bilhão de reais, de acordo com a consultoria e-bit.
O avanço do comércio eletrônico brasileiro fica ainda mais evidente se considerarmos que, em cinco anos, o setor cresceu seis vezes – em 2004, foram movimentados 1,75 bilhão de reais.
A maneira como pequenos e médios comerciantes na internet se apoiam nos sistemas para que seus produtos sejam vendidos com um risco menor de fraude por parte do consumidor faz com que a segurança seja necessária não apenas para o usuário final.
Isso implica no risco das empresas de pagamento eletrônico assumirem potenciais prejuízos quando é o consumidor que lesa o lojista, como explica o diretor de projetos especiais do UOL, Ricardo Dortas, responsável pelo PagSeguro.
Verifica
A preocupação do UOL em investigar as causas que levam a problemas nas compras online levou à formação de um grupo, composto com cerca de 30 pessoas, que foi “emancipado” do PagSeguro e, como empresa independente, recebeu o nome de Verifica.
“Todo pagamento recebe ‘score’ de alto, médio ou baixo risco e, dependendo da classificação, tomamos ações como cancelar a conta, entrar em contato e pedir mais informações para garantir que a pessoa que está pagando é quem fala que está pagando”, detalha ele.
O cuidado é uma forma de diminuir a incidência do que o mercado de pagamentos eletrônicos se acostumou a chamar de “chargeback”: após receber o produto o comprador malicioso cancela o pagamento, repassando o prejuízo para o lojista.
“Fazemos monitoramento e não repassamos (o “chargeback”). Tentamos ir atrás, mas se não conseguimos, assumimos o prejuízo. Nossos índices de perda estão abaixo dos índices de perda do mercado”, afirma Dortas, sem citar explicitamente a porcentagem de fraudes no total de transações pelo PagSeguro.
A pluralidade da equipe envolvida na operação do PagSeguro prevê ainda funcionários que tenham contato constante com os bancos, resolvendo possíveis problemas de conexões com as instituições financeiras, e responsáveis pela área técnica que cuidam dos servidores dedicados para a plataforma.
O Mercado Pago, sistema de pagamento eletrônico do Mercado Livre usado apenas para transações dentro do portal de leilões, opera, pelo menos no quesito técnico, em sistema semelhante, com servidores dedicados e técnicos que cuidam da infraestrutura.
O Mercado Livre, porém, não detalha especificamente sua organização interna relativa à segurança da plataforma, afirmando apenas que o setor emprega cerca de 200 funcionários na América Latina, com estratégia mais voltada para “a prevenção que para a ação”, segundo a empresa.
Focada em transações eletrônicas entre instituições bancárias e empresas grandes e médias, a BrasPag coloca como ação básica na sua proteção de informações o respeito ao conjunto de regras PCI Security Standards, criado para cartões de crédito mas passível de ser aplicado a pagamentos eletrônicos.
Segundo o diretor geral da BrasPag, Svante Wester Berg, o guia “não soluciona tudo, mas é o que tem hoje em termos de padrões internacionais”. O PCI define as melhores práticas tanto de processos tecnológicos como também, nas palavras do executivo, “humanos”, indicando como respeitar dados sensíveis de cartão de crédito.
Cartão de crédito, o rival?
“O brasileiro ainda tem muito medo de usar cartão e roubarem seus dados para fazer comprar. Pagamento eletrônico tem potencial bom já que conseguem vender que é mais seguro por não estar passando o cartão de crédito”, explica o diretor da CiaShop, Walter Hannemann.
“Muito embora o usuário dê os dados (do cartão de crédito) para a empresa responsável pelo pagamento eletrônico. É mais uma questão de confiança: em quem você confia mais para passar seus dados”, afirma o executivo, cuja consultoria desenvolve de soluções para comércio eletrônico.
Além do nível de segurança, que Hannemann vê como alto o suficiente para não atrapalhar o avanço de qualquer que seja a forma de pagamento no e-commerce brasileiro, o executivo crê no potencial do pagamento eletrônico por sua capacidade de “ajudar quando há disputa”.
Como o já citado caso do “chargeback”, se o consumidor tem problemas na efetivação da compra, a plataforma o ajuda a recuperar o dinheiro ou negociar um novo prazo de entrega, algo que se beneficia da falta de confiança plena que consumidores no Brasil têm em comércios online ou sites de leilão.
A postura é conflitante em relação ao recente plano revelado pelas empresas Redecard e Visanet: como forma de diminuir fraudes, ambas estipularam regras em novembro que, caso desobedecidas, poderiam implicar em multas ou descredenciamento dos varejistas filiados.
Popularização
Dorta defende outra vantagem da tecnologia, que se comportaria como uma espécie de “carteira eletrônica” do consumidor: ao invés de preencher diversos formulários e revelar informações bancárias para muitos serviços, a plataforma de pagamento eletrônico faz este gerenciamento.
A popularidade, portanto, estaria atrelada a acordos fechados com grandes sites de comércio eletrônico para que as ferramentas de pagamento eletrônico fossem aceitas, setor onde o PagSeguro desponta com parcerias fechadas com Casas Bahia e Livraria Cultura.
A popularização do sistema “vai depender mais do vendedor. Se o vendedor começar a priorizar, (o pagamento eletrônico) tende a se valorizar sim. Existe, inclusive, a possibilidade de não existir cartão de crédito. Mas não acredito neste é argumento forte”, defende Hannemann, da CiaShop. “Hoje, todos já têm um”.
Svante segue a mesma linha de pensamento e defende que uma maior penetração dos sistemas de pagamento eletrônico depende da aceitação conjunta de plataformas, varejistas e consumidores, além do entendimento de método de compra populares no País.
“Leva tempo para mudar preferência de pagamento (do consumidor brasileiro) e muitas vezes o comportamento offline vira online. Antes do cartão de crédito, o parcelamento já existia no cheque e acabou sendo assimilado”, diz o executivo, indicando uma possível adaptação dos sistemas de pagamento eletrônico no Brasil, que, além do investimento em segurança, ajudaria em sua popularização.